Presidente do BCE diz que junho é chave para falar sobre cortes dos juros. Especialistas admitem que Euribor caia para 3% em 2024. Fonte: Idealista News

O arranque de 2024 trouxe boas notícias para as famílias que estão a pagar crédito habitação em Portugal, já que houve ligeiros alívios nas taxas Euribor em janeiro. Mas no mês seguinte o recuo da Euribor foi interrompido nos prazos mais longos, gerando mesmo pequenas subidas nas prestações da casa. Por detrás desta oscilação da Euribor está a resistência do Banco Central Europeu (BCE) em discutir os primeiros cortes da sua taxa de refinanciamento, que voltou a fixar-se em 4,5% na reunião desta quinta-feira. É neste contexto que os mercados financeiros estão a adiar os primeiros cortes dos juros do BCE para junho, altura em que é esperada uma maior descida da Euribor e, por conseguinte, das prestações da casa. Também Christine Lagarde, presidente do BCE, apontou junho como “mês chave” para discutir cortes das taxas.

  1. Euribor subiu nos prazos mais longos em fevereiro
    1. Porque é que a Euribor está a oscilar?
  2. Quando vai descer a Euribor? Só quando houver cortes dos juros do BCE
    1. Taxa de refinanciamento pode descer até aos 4% em 2024
  3. Euribor deverá terminar 2024 em torno dos 3%
  4. As próximas reuniões do BCE

Euribor subiu nos prazos mais longos em fevereiro

Em reação às sucessivas manutenções das taxas de juro diretoras pelo BCE desde outubro, as taxas Euribor começaram a descer no final de 2023. Estas ligeiras quedas das taxas de referência mais utilizadas nos empréstimos habitação em Portugal ajudaram a que houvesse algum alívio nas prestações da casa até janeiro de 2024, tal como revelam as simulações do idealista/créditohabitação.

Mas este recuo da Euribor perdeu força em fevereiro, observando-se mesmo uma subida nos prazos a 6 e 12 meses e uma ligeira descida do prazo mais curto (3 meses) para os seguintes valores:

  • Euribor a 12 meses: a média mensal subiu para 3,671% em fevereiro, mais 0,062 pontos percentuais (p.p) do que a registada em janeiro (3,609%);
  • Euribor a 6 meses: a taxa do prazo intermédio aumentou ligeiramente em fevereiro para 3,901%, mais 0,009 p.p. face a janeiro (3,892%);
  • Euribor a 3 meses: voltou a descer ligeiramente para 3,923% em fevereiro, menos 0,002 p.p. face a janeiro (3,925%). Esta foi a terceira queda desta taxa mensal.

Estes movimentos da Euribor a 6 e 12 meses em fevereiro subiram ligeiramente as prestações da casa nos créditos habitação a taxa variável contratados em março. Já o recuo da Euribor a 3 meses resultou num pequeno alívio desta despesa, mostram as simulações mais recentes. 

O que se tem sentido em Portugal é que, embora a Euribor esteja a dar os primeiros sinais de descida e haver ofertas a taxa mista mais acessíveis, as famílias continuam cautelosas em comprar casa com recurso a financiamento bancário. Aliás, segundo os dados mais recentes do Banco de Portugal (BdP), o montante de novos empréstimos da casa diminuiu pelo segundo mês consecutivo, fixando-se em 1.185 milhões de euros em janeiro.

O que também se continua a observar no nosso país é que as famílias continuam a aderir a estratégias que permitem reduzir a despesa mensal com o crédito habitação, nomeadamente através de renegociações, amortizações antecipadas ou transferência de créditos. Além disso, também continua a haver uma adesão expressiva aos vários apoios públicos disponíveis, como é o caso da bonificação dos juros e da fixação da prestação da casa durante dois anos.

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Porque é que a Euribor está a oscilar?

O abrandamento da inflação da zona euro em fevereiro para 2,6% não foi suficiente para que o BCE tivesse avançado com um corte dos juros na reunião de política monetária que decorreu esta quinta-feira, dia 7 de março. Esta é, de resto, uma decisão já antecipada pelos economistas e analistas de mercado, que têm vindo a adiar as suas previsões para os primeiros cortes de juros.

Aliás, é precisamente aqui que reside a principal razão para o facto de a Euribor estar a oscilar. “Em fevereiro, a descida da Euribor perdeu força, uma vez que os mercados têm vindo a adiar o calendário previsto para a descida das taxas de juro”, comenta David Brito, diretor-geral da Ebury Portugal, em declarações ao idealista/news. Se há algumas semanas os mercados apostavam que o primeiro corte dos juros do BCE iria ocorrer em abril, agora a hipótese mais aceite adia a descida dos juros diretores para junho.

Neste contexto, “a descida da Euribor poderá ser mais lenta do que o previsto há algumas semanas e poderemos encontrar-nos num período de estagnação, onde o indicador não sofrerá grandes oscilações”, refere ainda o diretor-geral da Ebury Portugal. Também Miguel Cabrita, responsável pelo idealista/créditohabitação em Portugal, não espera “uma descida acentuada das taxas de juro no imediato”, admitindo que “se comece a sentir maior impacto para o segundo semestre do ano”. Assim, quem está a pagar um crédito habitação a taxa variável (ou mista em período variável) não deverá esperar, para já, grandes mudanças nas prestações da casa.

Como vai evoluir a Euribor

Foto de Liza Summer no Pexels

Quando vai descer a Euribor? Só quando houver cortes dos juros do BCE

O que os especialistas de mercado não têm dúvidas é que as taxas Euribor e as prestações da casa só vão cair de forma mais expressiva, quando houver uma descida dos juros do BCE, que está agora prevista para junho. O primeiro corte da taxa de refinanciamento – que tem impacto nos créditos habitação – deverá, então, ter lugar na reunião de política de 6 de junho e deverá ser de 25 pontos base, seguido de três ou quatro descidas até ao final do ano, preveem.

Este é, agora, o cenário mais provável desenhado pelos analistas de mercado, numa altura em que o tom moderado sobre a primeira descida das taxas de juro tem marcado o discurso de Christine Lagarde. Isto porque o regulador europeu não quer aliviar a política monetária sem primeiro ter garantias de que a inflação na zona euro está mesmo a estabilizar nos 2%, o nível em que é assegurada a estabilização de preços. Além disso, o BCE continua de olhar atento para efeitos dos conflitos internacionais sobre os preços da energia, bem como para as “elevadas pressões internas” que a subida dos salários tem exercido sobre a inflação subjacente, que colocaram as previsões nos 2,6% no final de 2024 (enquanto a inflação na zona euro deverá ficar em 2,3%).

“Estamos a fazer bons progressos em direção à nossa meta de inflação e, por isso, estamos mais confiantes. Mas não temos confiança suficiente. É claro que precisamos de mais evidências e de mais dados. Saberemos um pouco mais em abril, mas saberemos muito mais em junho”, explicou Christine Largade esta quinta-feira, apontando junho como mês chave para discutir cortes das taxas.

A verdade é que a redução da inflação está a ser mais lenta que o esperado pelo BCE, com a taxa na zona euro a subir em dezembro de 2023 para 2,9%, seguindo um abrandamento até aos 2,6% em fevereiro. E os mercados têm vindo a alertar que a reta final da luta contra a inflação será provavelmente a mais difícil. Tendo em conta a “queda ainda frágil da inflação, os riscos para o BCE de cortar as taxas de juro demasiado cedo são maiores do que os riscos de as cortar demasiado tarde”, analisa Franck Dixmie, diretor Global de Investimentos em Obrigações da Allianz Global Investors.

É por isso que Lagarde tem sublinhado que é “prematuro” antecipar a redução de juros para antes do verão. Mas esta não é uma perspetiva partilhada por todos os membros do BCE. É o caso de Mário Centeno, governador do BdP, que diz ser “preferível um corte nos juros mais cedo e gradual, que mais tarde e abruptamente”, considerando uma redução em passos de 0,25 pontos percentuais uma “boa métrica”. Até porque há que olhar para o abrandamento de várias economias europeias, numa altura em que algumas já estão em recessão (não é o caso da economia portuguesa que cresceu 2,3% em 2023). Também o BCE admite que a economia europeia “continua fraca”, com as famílias a “conter gastos”, o investimento a moderar-se e as empresas a “exportarem menos”. E tudo indica que a economia vai continuar “moderada no curto prazo”, já que as projeções apontam para um crescimento de 0,6% para 2024. Só nos anos seguintes é que deverá recuperar.

Foi tendo em conta a cautela do BCE em falar do primeiro alívio da política monetária e o difícil recuo da inflação até aos 2% na fase final, que os analistas de mercado reviram as suas perspetivas de corte dos juros do BCE, adiando-o para junho (antes consideravam-no mais provável em abril). Uma vez que os dados da inflação “ainda não indicam uma trajetória clara”, KevinThozet, membro do Comité de Investimento Carmignac, não espera que “o BCE reduza as taxas diretoras antes de junho, a menos que haja um evento imprevisto significativo”. Também Franck Dixmier, da Allianz GI, aponta para um primeiro corte dos juros em junho, realçando que “a pressão sobre o BCE para reduzir as taxas de juro deverá aumentar num contexto de estagnação da atividade na zona euro, especialmente na Alemanha”.

Cortes dos juros pelo BCE

Christine Lagarde, presidente do BCEGetty images

Taxa de refinanciamento pode descer até aos 4% em 2024

Além de começar a haver consenso de que o primeiro corte dos juros do BCE vai ocorrer em junho, os especialistas de mercado também concordam que esta redução das taxas diretoras deve ocorrer de forma gradual. Isabel Schnabel, membro da comissão executiva do BCE, admitiu que quando o regulador europeu avançar com os cortes dos juros deverá “proceder com cautela, dando pequenos passos”. E Mário Centeno diz ser “totalmente favorável aos cenários de gradualismo”, uma vez que é preciso “dar tempo aos agentes económicos para se adaptarem às decisões”.

Também Carsten Brzeski, economista-chefe do ING, prevê uma flexibilização “cautelosa e gradual”, com uma descida total de 75 pontos-base em 2024. “Com o passar dos meses, acreditamos que o banco central terá menos argumentos para manter os juros onde estão, especialmente porque a manutenção das taxas de juro elevadas contribui para a limitação das condições financeiras”, disse citado pela Lusa.

O número de reduções das taxas do BCE ao longo de 2024 também foi revisto em baixa pelo mercado. Se antes eram esperadas 6 ou 7 descidas dos juros, agora estão previstas entre 3 e 4, sendo que a primeira está prevista para junho. Atualmente, “estão a ser descontadas menos de quatro reduções de 25 pontos base até ao final do ano”, indica David Brito, da Ebury Portugal.  Se a taxa de refinanciamento (que hoje está em 4,75%) recuar três vezes, descontando 25 pontos base, situar-se à em torno dos 4% no final do ano. Se houver mais uma descida, poderá mesmo terminar 2024 em 3,75%.

Euribor deverá terminar 2024 em torno dos 3%

O cenário de cortes dos juros do BCE mais tarde do que se esperava (e com menor intensidade) vai acabar por influenciar a evolução das taxas Euribor ao longo do ano. O mais provável é que a Euribor se mantenha estável nos atuais níveis (entre 3,6% e 3,9%) nos próximos tempos até que cheguem os primeiros cortes dos juros esperados em junho, indicam os analistas sem descartar oscilações na sua evolução.

Há especialistas que estão mais otimistas do que outros quanto à descida das taxas Euribor ao longo de 2024 (e no próximo ano):

  • a Ebury prevê que a Euribor possa situar-se em torno dos 3%-3,5% no final deste ano;
  • o BBVA Research vê o indicador no final de 2024 em torno dos 3,3%;
  • o CaixaBank e a Fundação Caixa Económica (Funcas) estimam que a Euribor a 12 meses rondará os 3% no fim de 2024;
  • o Bankinter acredita que a Euribor no prazo mais longo cairá para perto de 3,25% no final de 2024 e para 2,75% em 2025. 
  • o idealista/créditohabitação estima que a Euribor a 3 meses pode ficar em 3% no final do ano e descer para 2,65% após a primavera de 2025.

Os cenários mais prováveis para a descida da Euribor estão, portanto, entre 3% e 3,5% no final de 2024. Segundo as simulações do idealista/créditohabitação, tendo em conta novos empréstimos da casa de 150.000 euros (com spread de 1% e prazo de 30 anos), se a Euribor a 6 meses descer para 3,5% em 2024, significa que as prestações da casa poderão fixar-se em cerca de 760 euros – o nível em que estavam na primavera de 2023 (agora estão em 796 euros). Se a Euribor cair para 3,25%, as prestações da casa ficariam em torno dos 730 euros. E no caso de a taxa descer mesmo para 3%, as prestações fixar-se-iam nos 715 euros durante os primeiros meses do contrato.

Assim, depois de o BCE avançar com os cortes dos juros, as famílias portuguesas podem esperar uma descida progressiva da Euribor ao longo de 2024, muito embora se preveja que vá ser bem mais lenta do que a sua trajetória de subida. Enquanto nos novos créditos habitação de taxa variável vão logo refletir as menores taxas Euribor, nos empréstimos da casa existentes a descida da Euribor vai ser sentida só quando as prestações da casa forem atualizadas. “Os portugueses com crédito habitação de taxa variável que têm revisão na segunda metade do ano, observarão uma redução mais expressiva nas suas prestações mensais”, prevê Miguel Cabrita.

As próximas reuniões do BCE

O Conselho do BCE reúne-se aproximadamente de seis em seis semanas. Este é o calendário das próximas reuniões de política monetária do guardião do euro, nas quais vai anunciar as suas decisões sobre as taxas de juro diretoras:

  • 11 de abril de 2024
  • 6 de junho de 2024
  • 18 de julho de 2024
  • 12 de setembro de 2024
  • 17 de outubro de 2024
  • 12 de dezembro de 2024
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